Vamos

Vamos. Larga tudo e vamos embora daqui. Pega uma mochila, umas trocas de roupa e vamos. Deixa tudo isso pra trás. Larga toda bagunça, correria, caos, todos os relógios! Deixa tudo isso por aqui e vamos. Pra viver e ver tudo e qualquer coisa. Na rua, na chuva, na fazenda, naquela casinha de sapê... Tanto faz.
Se despede de quem quiser, mas já aproveita e fala que talvez a gente volta, que não é pra ninguém ficar preocupado, vamos cuidar um do outro.
Deixa falarem que somos loucos, deixa nos chamarem de inconsequentes. Não esquenta com isso, não. Só pega as coisas e vamos. A gente tem cara, coragem e alguns trocados. Tá pronto?

O que você não sabe

Acordei as 4h30 da manhã com o barulho do meu celular, mas ainda bêbada de sono virei as costas e dormi novamente. Levantei algumas horas depois e vi ela ali, parada, esperando pacientemente para ser lida. Uma mistura de curiosidade e medo me fez deixar aquela mensagem esperando mais alguns minutos no meu celular. Fui na padaria comprar alguma coisa doce pra ver se acalmava as borboletas que pareciam pular carnaval no meu estômago. Voltei pra casa. Enquanto meu coração quase gritava para eu ler o que estava escrito, minha mente me alertava do perigo que poderiam conter aquele grupo de letras. Resisti mais um tempo.
O dia estava frio e cinzento o suficiente pra me deixar de mau humor, resolvi então que qualquer coisa que tivesse o mínimo de chance de me deixar ainda mais rabugenta seria deixado de lado. E deixei.
Aquela mensagem ficou um dia inteiro intacta no meu celular. Pensei em apagar. E apaguei. Apaguei sem ao menos dar uma olhada rápida. Apaguei a mensagem e qualquer fio de sentimento que nela poderia ter, ou que poderia estar faltando. Apaguei junto todas as incertezas que ela trouxe de volta pra minha cabeça. Se fosse alguma coisa boa você mandaria outra, por receio daquela não ter chegado ou sei lá. Se fosse alguma coisa ruim... Bom, melhor pra mim e pro meu coração não ter visto.
Me arrependi logo em seguida, mas senti uma certa leveza quando o fiz. Fui levando minha rotina com uma dúvidazinha sobre o conteúdo, porém com uma certeza absurda de que tinha feito o que era certo. Até ontem. Até um dia estúpido como ontem, no qual você resolveu me ligar. Juntei todas as minhas forças pra atender e ser o mais natural possível, em vão, claro. Você perguntou se eu não ia responder sua mensagem antes ao menos de saber se estava tudo bem comigo. Entrei em estado de choque por alguns segundos e com o maior cinismo do mundo te disse que não lembrava o que era. Você, que me pareceu um pouco tenso na hora, só respondeu falando que ia mandar de novo, e desligou.
E eu, que quando finalmente li, só consegui criar coragem pra te dar explicações com um texto que você provavelmente nunca vai ler.
Mas eu também estou com saudades.

O melhor amigo de uma mulher

Marilyn Monroe que me perdoe mas o melhor amigo de uma mulher nunca foi o diamante. Mulher que é mulher de verdade não vai se sentir mais bonita por causa de uma pedra valiosa. O melhor amigo de uma mulher é aquele bilhetinho com cantada do bar. Aquele beijo apaixonado. Aquela mensagem de boa noite.
Mulher que é mulher de verdade gosta de ser mimada principalmente nas coisas pequenas. No café pronto pela manhã. Na porta que foi segurada pra ela passar. Em uma mão que faz cafuné. Mulher que é mulher de verdade não quer cara que pague a conta do restaurante. Quer um que mande uma flor só pra ter certeza de que ela vai sorrir naquele dia. Não quer um cara que a busque em casa com um carrão, mas sim um leve sopa ou sorvete pra quando ela não estiver afim de sair. Não quer um que dê roupas de marca e presentes caros. Quer um que a faça se sentir linda de chinelo e moletom. Mulher de verdade não se importa se o cara não tem um celular com mil tecnologias pra tirar fotos deles juntos em um restaurante chique. Ela só quer ser levada pra jantar e ter uma noite agradável pra guardar na cabeça e no coração.
O melhor amigo de uma mulher é o homem que faz ela se sentir uma mulher de verdade.

Sobre 12 de junho

Solteiros, parem de reclamar sobre o dia dos namorados. E casais, parem de zoar os solteiros. Amor não é limitado só pra pessoas! Quem acha que só vai ser feliz e completo quando achar um outro alguém nunca leu um bom livro, viu um bom filme ou encontrou um parceiro fiel no animal de estimação.

Dia dos namorados é pra todo mundo. Sempre estamos apaixonados, e não precisa necessariamente ser por alguém. Parem e vão namorar uma música, um doce na vitrine da padaria, um sapato ou um carro caro, uma cerveja gelada no meio do expediente. Que celebre esse dia todos que sentem amor, seja por uma pessoa ou uma (e por que não várias?) coisas. 

Poema Um

Te deixo porque te amo
que amor não são só sorrisos
e não suportaria te ver chorar

Te deixo porque te amo
que amar é sim sofrer
e por ir embora já sofro demais

Te deixo porque te amo
que não só de amor vive um romance
e não basta só um coração bater

E te deixo porque também me amo
Pois prefiro morrer com a dúvida
A viver sem seu amor

O que eu não quero

Você me diz que não damos certo por quê somos e pensamos diferentes. Mas...eu não quero alguém parecido comigo.

Eu quero alguém que tenha lido livros diferentes dos que eu li. Que assista programas de TV diferente dos que eu assisto. Que escute outras bandas...diferentes das que eu escuto.
Eu quero alguém que me mostre novidades. Que instigue minha curiosidade. Vamos ver se pra mim é bom do mesmo jeito que é pra você. Se for, ótimo. Se não for a gente troca o canal, abaixa o volume do som.
Eu não quero alguém que pense como eu penso. Eu quero poder debater, discutir. Dizer minha opinião e ouvir outra. Insistir na minha opinião e não aceitar outra. Acatar outra opinião e deixar a minha pra trás. Nada teria a menor graça se todos achassem o que eu acho. 

Quero alguém que veja o mundo de um jeito diferente do meu e que me diga o que está vendo. Eu também quero ver com outros olhos além dos que possuo.
Quero alguém que me faça ter vontade de fazer coisas diferente das que eu faço.
Eu quero principalmente alguém que conheça meus limites, e me faça cruzá-los. 

Conversa com Deus

Moço, cadê aquela menina que eu conheci a um tempinho atrás? Pouco tempo mesmo. Ela não era propriamente bonita mas tinha um luz por dentro que iluminava tanto ela. Devia ser felicidade ou sei lá. Deixava ela brilhante igual uma estrela.
Onde será que ela está? Poxa moço, ela não tinha muitos amigos, mas ouvi falar que eram suficientes. Aqueles que costumam chamar de "poucos e bons". Tinha um outro rapaz que estava apaixonado por ela também, mas pelo que percebi não está mais. Vai ver ele também não estava mais encontrando ela. Ajuda a gente, moço.
Essa menina não tinha nada de especial, não. Era igual grande parte das outras meninas. Tinha umas frescuras e umas manias estranhas, mas quem não tem né? Não sei por quê ela ficou diferente. Agora eu não encontro ela mais! Mesmo chovendo ela acordava feliz. Mesmo quando ela tava fraca ela juntava forças pra ajudar os outros. Será que ela se esforçou muito e ninguém ajudou ela, moço? Por isso ela se perdeu?
Tão triste isso! Me contaram que ela era dessas românticas assumidas e sonhadora exagerada. Moço, será que ela caiu de uma nuvem? Foi sonhar tão alto e não aguentou a queda?
Eu lembro dela ser dessas teimosas. Quando queria alguma coisa ela fazia até ter. E olha que estranho, moço: ela já tinha batido com a cara no mudo algumas vezes, mas ela sempre levantava e ia lá viver outras coisas.
Por onde será que ela anda ein, moço? Queria tanto encontrar essa menina de novo.E eu nem sei por onde começar a procurar.

Simplicidade

Que eu nunca perca o visco do amor.
Que eu tenha esperanças de um cara que vá me dar flores e "bom dia" sem motivo específico.
Que o mau humor que toma conta da minha cabeça algumas manhãs não seja freqüente e que eu consiga sempre enxergar um pontinho de luz no meio da escuridão.
Que eu leia um livro não só quando sou obrigada.
Que meus amigos sempre me queiram bem e que eu nunca deseje o mal para ninguém.

Que eu ainda tenha tempo de sonhar em meio a tanto caos cotidiano.
Que eu possa descansar não só quando meu corpo pede.
Que eu continue acreditando na bondade e boa vontade das pessoas que eu não conheço, e que não eu seja forçada a sair do mundo de algodão-doce no qual me apoio.
Que eu não perca o interesse pelas coisas que eu gosto.

Que tudo aquilo que me faz feliz continue me cercando.
Que eu saiba dar risada das situações constrangedoras e que eu entenda que sofrer também se faz necessário.
Que eu continue tendo forças para seguir em frente e para ajudar aqueles que não conseguem, e que meus valores morais sejam sempre mais fortes que os valores impostos por outros.

Que eu viva a vida que eu amo E que eu ame a vida que eu vivo.

Uma droga de amor

Se engana quem acha que usuário de drogas é só quem fuma maconha, cheira cocaína, injeta heroína. Se engana mais ainda quem acha que só essas coisas são drogas. Não existe droga mais poderosa e destruidora que o amor. E a primeira vez com o amor não é diferente de nenhum outro entorpecente ilegal.

Antes, temos o receio do que pode acontecer, ouvimos os mais experientes falar para não cairmos nessa, que é "fogo de palha", que se esperar a vontade passa. Ficamos cientes das contra-indicações. Mas após lermos muito sobre o assunto e escutarmos conselhos de amigos, decidimos arriscar. Vamos lá e amamos pela primeira vez.

A princípio é uma delícia. Dá aquele friozinho na barriga, não sabemos ao certo o que vai acontecer, mas temos certeza de que no final tudo vai ficar bem... E se fica, acabou! Nada mais vai nos impedir de amar de novo sem o menor receio. E claro, isso acontece mais uma vez. E outra, e outra, e mais uma. Quando começamos a perceber que nem sempre a "vibe" vai ser boa, mas mesmo assim continuamos amando, já é tarde demais: estamos viciados.

E o problema de ser viciado em amor, é que, ao contrário de outras drogas (ilícitas ou não), não se consegue abandonar o hábito. Passamos a sofrer danos físicos e emocionais.

Temos tremedeira, taquicardia, nossa boca seca...Ficamos com a visão turva só de vermos a pessoa amada passar. E se somos correspondidos pior ainda. Passamos a deixar nossos amigos de lado, perdemos o sono, choramos, ficamos mal. Nosso coração fica abatido e mostra claros sinais, mas não conseguimos parar de amar.  E não há terapia, remédio, livros de auto-ajuda, nem internação que cure.

E também como em qualquer outro vício, usamos o nosso amoroso como desculpa para conseguir viver e sobreviver. Portanto, aqui vai um conselho: salve-se se conseguir, ou aceite que vai passar o resto de sua vida amando, e que de amor você também vai morrer.

Depois que eu comecei a amar um sorriso

Foi em 2005 quando eu me apaixonei pelo meu primeiro sorriso. Ele era largo e tinha os dois dentes da frente um pouquinho separados. Era difícil de arrancar, mas quando saía, fazia valer todo o esforço. Não demorou muito até ele abrir a porta de tudo que eu amo e deixar ela aberta. Passei então a amar admirar um sorriso. 
Tive mais depois desse: alguns foram muito sinceros, e outros nem tão bem cuidados. Tive sorrisos de dente de leite, com menos dentes do que gostaria e uns claramente forçados.
Conheci sorrisos por piadas, por fotos, por pequenas gentilezas e por situações inesperadas, tipo um "bom dia" no elevador ou um "obrigada" no meio do trânsito. Descobri que acreditar em um sorriso de tristeza vale mais a pena do que um sorriso de festa, e que não existe nada de errado em um sorriso com segundas intenções. Vi sorrisos que estavam quebrados e outros que pareciam milimetricamente desenhados.
Morri de amores por um sorriso torto e por outro de canto de boca, aqueles de esboço, que você sabe que não vai abrir mais por puro gracejo. Já me encantei por um sorriso de aparelho, por um outro tímido, e chorei quando perdi um sorriso de dentes grandes.
Aprendi que saber ler um sorriso é tão importante quanto saber ler um livro. E que um sorriso é tão bonito por si só, que ninguém precisa falar nada pra receber outro de volta. 

O novo fim dos desesperados

Esperei 2012 chegar com muita ansiedade. Um começo de ano, para mim e pelo menos para mais mil pessoas desesperadas, é a desculpa pra fazer novos planos, novas metas, ter novos amores e novo corte de cabelo. É a chance de esquecer tudo o que fizemos de errado, por quê afinal, o ano acabou e ano novo merece erros novos.
O final de 2012  trouxe uma bomba que fez os desesperados se desesperaram ainda mais. Nosso sonho de recomeçar uma vida inteira em um ano teria se acabado. Os Maias tinham previsto, a  NASA anunciou o asteroide gigante que iria se chocar com o nosso planeta antes que a gente tivesse a chance de usar aquele vestido novo branco. Os sinais do apocalipse estavam em todos os lugares!
Mas estamos aqui hoje, o que evidentemente significa que o mundo não acabou. Não do jeito que a gente esperava. De última hora os anciões Maias ou qualquer bando de babacas com acesso a internet, resolveram mudar a história do fim do mundo. A gente não ia morrer, o mundo não ia explodir, o tão esperado "fim" na verdade era só um nome pra transição de uma "era" pra outra. Depois do dia 21 de dezembro tudo mudou para  "começo do novo mundo". Um mundo onde as pessoas seriam todas solidárias, se cumprimentariam dentro do elevador, dariam bom dia pros invisíveis. Onde os países capitalistas se importariam menos com lucros e mais com a natureza. Onde não existiria mais pobreza, analfabetismo, desnutrição. O "novo mundo" dos Maias era a utopia moderna de More.
Nós, desesperados, pudemos respirar aliviados e continuar fazendo nossas listas de metas. Viramos o ano  em cima da uma cadeira, ao lado de uma mala de viagem, comendo uvas, romãs, lentilhas com uma moeda dentro do sapato e outra dentro do champanhe. Acalmamos nossa consciência e dormimos em paz, felizes em saber que nossa prática seguiria adiante por muitos anos ainda.
Porém, logo no início do novo ano percebemos que fomos todos, principalmente os desesperados, enganados mais uma vez. As previsões dos Maias não incluía o país do carnaval. Estávamos fora da "era do mundo ideal". E começamos o ano com BBB  no ar, com jovens morrendo dentro de boate, e com a nova estrela da corrupção sentando na cadeira mais alta da Casa.
Se 2012 foi o fim do mundo, 2013 é o fim do Brasil.